Discurso Margaridas Alves
1º de maio de 1983 , dias do trabalhadores
No campo e na cidade queremos liberdade.
Companheiras de Alagoa Grande (PB), do Brasil e da América Latina, nós estamos aqui para denunciar as irregularidades no campo e na cidade contra os trabalhadores.
A prepotência dos proprietários de Alagoa Grande (PB) estão oprimindo a diretoria do sindicato e ainda na última sexta-feira recebemos ameaças de dentro de nossa sede, mas eu quero dizer a vocês que nós não
tememos qualquer ameaça e nós vamos até o fim em luta por
melhores
condições de vida aos trabalhadores rurais - doa isso a quem doer, goste quem gostar.
Da luta eu não fujo porque eu entendo que é melhor morrer na luta do que morrer de fome. Fiquem certos, trabalhadores, que mais fácil será saber que nós tombamos, que nós morremos, do que vocês ouvirem dizer
que nós fugimos correndo.
Dizem os proprietários de Alagoa Grande (PB) que nós estamos invadindo as suas propriedades - invadindo estão eles! Denuncio em alto e bom som: invadiram os direitos dos trabalhadores. Precisamos que vocês
cerquem fileiras do nosso lado porque a situação está cada
vez
pior.
Eu quero pedir para que quando vocês voltarem para as vossas casas, lembrem-se e rezem por aqueles que já tombaram na luta, rezem também por aqueles que estão na luta enfrentando a ameaça dos poderosos, na
frente da batalha.
Não poderia calar diante de tudo isso e se assim eu fizesse, um líder teria só um nome de líder porque a ninguém é dado o direito de baixar a cabeça, cruzar os braços, ficar calado diante de uma calamidade
pública, porque vamos cruzar os braços se a fome bate na
porta
do
povo?
Deus não deixou escritura de terra para ninguém não, Deus deixou a terra para os seus filhos e hoje ela tá na mão de um grupinho muito pequeno - esse grupinho é o latifundiário, o usineiro, o senhor de
engenho. Vamos dizer um não para esses proprietários que tem
tudo
e querem
tudo para eles. Não os pago e é por isso
que tá todo mundo morrendo de fome.